Parque Nacional da Chapada Diamantina - Relato

Por Dd

Lençóis, Andaraí, Palmeiras, Vale do Capão, Guiné, Igatu, Mucugê, Iraquara, e Ibicoara/Bahia, são as cidades e vilas que fazem parte dos atrativos da Chapada. O Parque ocupa cerca de 152 mil hectares de área e é guardião de muitas riquezas naturais, porém seu grande objetivo é proteger suas nascentes, seu banco genético importante para a pesquisa científica e para a conservação da biodiversidade.

Vale do Paty - Guiné á Andaraí
Trekking de 4 dias pelas belezas intermináveis do parque. Bom, pra ficar mais claro, a maior infra-estrutura de apoio para a maioria dos passeios por aqui é de Lençóis. Como os atrativos são todos muito distantes e você precisa de transporte para iniciar seu trajeto, sua melhor escolha é contactar uma agência e seus profissionais para dividir com outras pessoas seu roteiro preferido. Então, pós contatos e escolha dos passeios ora de deslocamentos. Pra iniciar o trekking é preciso muitos quilômetros contornando o parque de uma cidade para outra, (inclusive com veículo 4x4.) até chegar a primeira encosta de montanha a ser vencida.
Finalmente a caminhada começa e as belezas simultaneamente aparecem a cada curva de trilha.

Primeiro Dia -
Vence-se a primeira montanha sem muita resistência até chegar a parte rasa e reta do cerrado, que por muitos quilômetros nos acompanharia numa vegetação baixa cheia de bromélias e orquídeas, que embelezavam o caminho úmido e ensolarado que não nos abandonaria por nenhum minuto, e seria capaz de deixar marcas na pele como veríamos mais tarde...

Uma bota ansiosa para trilhar novos caminhos...



Cartão postal da Chapada, a visão para o Vale do Paty é sensacional, contraste entre os mais variados tons de verde e azul lado a lado com o sopro forte do vento realmente faz a caminhada valer o esforço.
Bom, a vontade era descer e encarar o vale, tamanha a beleza da vista do mirante. Porém, continuaríamos sobre o vale para voltarmos futuramente, já que tínhamos como objetivo alcançar antes o Cachoeirão...
Vale do Paty

 O Cachoeirão é realmente fantástico, do nada em uma trilha normal você dá de cara com um precipício de 280 metros verticais que a princípio dá vertigem, mas é momentâneo e aos poucos a coragem aparece para apreciar o lugar que é simplesmente inigualável. Na época de chuva que conseqüentemente torna o rio mais violento, formam-se várias quedas cannyon abaixo e também dificulta a passagem de um lado ao outro do penhasco, mas se tiver chance, vale a pena, as imagens são únicas em cada borda...

Cachoeirão

 Depois de refeitos da miragem, ora de voltar a trilha original e adentrar ao Vale do Paty. Agora com o sol mais baixo e aos poucos mostrando a lua (que aqui aparece bem cedo) chegamos a casa da Dona Raquel e seus filhos que vivem da agricultura e dos turistas que pernoitam no vale a procura de uma boa noite de sono e uma refeição quente.
Quero deixar registrado que um dos pontos altos da trilha foi justamente esse, o contato e o contraste da nossa chamada "vida normal" com os costumes do povo local. Não havia energia elétrica, as paredes eram de pau-a-pique e o chão de barro batido. Porém a casa estava cercada por montanhas lindas, os moradores nos receberam de braços abertos ao som de violão e sanfona, a comida foi preparada minutos antes com todo carinho e tinha até cachaça de jacabuticaba, o que foi um relaxante muscular poderoso e que nos fez voltar para uma segunda noite pós outras trilhas pelo vale.


casa de nativos com o morro do castelo ao fundo

Segundo Dia - 
Estas trilhas que me referi acima, era inicialmente subir o morro do Castelo (que para alguns integrantes parecia intransponível) e que nos proporcionaram outras belas imagens na memória, e sua continuação morro abaixo nos levaria ao vale do rio do funil. Bom, depois de um café da manhã poderoso com muitos quitutes e sucos, montanha acima. Ela contorna um penhasco bem íngreme que parece ser umas das mais altas da região, e que com a combinação do calor e da umidade faz seu corpo precisar de água e sombra a todo instante. A paisagem compensa, quase ao topo do morro você dá de cara com uma gruta gigantesca que te convida a caminhar pelos seus labirintos silenciosos... Fantástico. O outro lado da gruta te proporciona outras belas visões apesar do caminho perigoso que ela cobra. 



Sobre o morro do Castelo

cachoeira do Funil

Trilha abaixo a partir de agora até alcançar o leito do rio Paty que seria nosso caminho natural até a cachoeira do Funil. Algumas semanas antes a chapada tinha sido alvo de muita chuva, aumentando muito o nível do rio, derrubando pontes, sujado grutas e "apagado"  trilhas que contornavam o leito.
Assim sendo, nossa unica forma de chegar a cachoeira era por dentro do rio. Já no fim de tarde com a luz natural se despedindo foi um pouco complicado achar o caminho de volta. Porém, a cachoeira foi um alívio aos músculos já cansados da subida anterior e alvo de alguns saltos refrescantes...
Chegamos já noite a casa da Dona Raquel para novamente aproveitar além da comida e simpatia, muita cachaça...rsrs


Terceiro dia -
O mais tranqüilo da trajeto, vale adentro até encontrar poços para banho, onde serviram de acampamento natural para fugir do sol e calor, passando pela antiga prefeitura da região que foi muito movimentada na época do garimpo até chegar a casa de mais um nativo. Seu Jóia e sua esposa Dona Leo. Tudo que comentei antes serve agora, lugar lindo, com boa comida e hospitalidade, tudo muito simples e grande visual.

 Antiga Prefeitura do Paty

Casa da Dona Leo e Seu Jóia e a ladeira a vista





Quarto Dia -
Estávamos no meio do vale e teríamos que vencer a montanha a nossa frente através da Ladeira do Império (antigo caminho usual no transporte dos diamantes achados no vale) que impressionam pela quantidade de pedras enormes que foram deslocadas para sua construção em um tempo que o serviço braçal mandava...
Bom, chegamos as 12hs em Andaraí para uma rodada de sorvete para alguns e cerveja para outros até encontrar-mos nossa condução até Mucugê, nossa próxima cidade.
 Ladeira do Império

Mucugê

 Cemitério Bizantino

Quinto dia - 
Então, deixei claro que o primeiro trekking havia terminado ok?
Burracão agora era o alvo...
Essa trilha na verdade é mais simples que o percurso de carro que tem que ser feito até encontrá-la. Estrada bem ruim e subidas fortíssimas forçam nosso carro (ao ponto de termos que empurrá-lo) em um trecho. Divertido, porém o que me motiva são as caminhadas. Depois de uns 3km de trilha a paisagem ficou muito interessante, se exibindo com cachoeiras de tom avermelhado, afunilamentos e precipícios escorregadios, perfeito... Logo chegaríamos a um labirinto tortuoso e escavado pela erosão que culminaria numa cascata de 80 metros lindíssima e barulhenta que fariam meus sentidos entrarem em curto...
pela trilha

no caminho certo

logo depois da curva, a surpresa...

Cachoeira do Buracão - 80 mts

Defronte

por cima
Sexto dia -
Iraquara - Caverna da Torrinha
Fim do Trekking? Quase, esta caverna tem 13 km de rotas descobertas, porém somente 4km aberta ao público. Foi o bastante para ficar impressionado com a diversidade de caminhos e formações que a água é capaz de realizar. A mente humana procura por imagens conhecidas e as encontra, exemplo a seguir: a imagem de jesus e o morro do pai Inácio...




Pós caverna e visualização do Morro do Camelo, e os 3 Irmãos, um passeio para banho de rio Mucugézinho e Poço do Diabo....




  Finalizando bem, por do sol no Morro do Pai Inácio...perdão por estar na frente da paisagem, porém o morro é de propriedade particular que instalou uma antena de celular (acreditem) e que me fez tampá-la com minha "pequena cabeça"...



Sétimo Dia - 
Cachoeira da Fumaça
Isso mesmo, ficou para o final o roteiro mais procurado da Chapada.
6 km de trilha com um sol para cada um, com seus 2 km iniciais com uma subida bem íngreme sobre pedras, e o restante muito simples sem muita alteração de altitude até encontrar o rio que culmina na cachoeira da fumaça.
São 400 metros de queda livre que faz jus ao nome, seu fio d´agua sem muita força não consegue chegar intacto ao fundo do penhasco sucumbido pelo vento que o transforma em "fumaça".


 Na volta da trilha, uma passagem rápida pra banho na cachoeira do riachinho onde um cachorro obediente seguia seu amigo...

Como eu havia citado antes, devido as fortes chuvas, as grutas e cavernas famosas da região ficaram avariadas e não puderam ser visitadas, mesmo assim valeu cada centímetro da vista...


Interessante salientar que todos esses passeios pelo parque são obrigatóriamente feitos com o auxílio de guias, então se informe antes de iniciar a viagem.
Foi minha primeira viagem na vida acompanhado por guias e suporte, e que me deixou surpreso pela comodidade que isso representa...justamente pelos atrativos serem muito distantes um do outro e o carro de apoio estar no lugar certo e na hora certa no início e fim de cada percurso.
Lençóis vive do turismo, muitas agências na cidade oferecem os roteiros...eu fiz pela Chapada Adventure e gostei...(chapadaadventure.com.br)
Abraço a todos
Dd