TORRES DEL PAINE – PATAGÔNIA – CHILE relato

Por DD


Parque Nacional Torres del Paine. Inaugurado em 1959 e declarado pela Unesco como Reserva da Biosfera em 1978, possui 250 km de trilhas demarcadas e é considerado um dos melhores pontos do mundo para a prática de Trekking de grande desempenho. Neste lugar os amantes do esporte e da natureza saciam suas vontades aventureiras com as muitas montanhas, maciços, lagos, cachoeiras e glaciares ao longo do Parque.
Visão geral do Parque
É neste lugar fascinante que resolvemos passar os primeiros dias de 2008 percorrendo o tão sonhado circuito W, acampando nos lugares mais incríveis, desfrutando de todas as suas belezas naturais, e a qual gostaríamos de dividir este momento único com nossos amigos de blog através deste relato.

Primeiro dia no Parque
A estrada que liga Puerto Natales(cidade mais próxima) até a portaria Laguna Amarga, tem aproximadamente 140km e o percurso abrange meio caminho em estrada asfaltada e o restante em rípio, o que não causa nenhum incômodo, já que a vista compensa qualquer imprevisto e conforme você se aproxima das torres, a visão te hipnotiza completamente e não há como desgrudar os olhos deste espetáculo por nenhum instante.
Depois das devidas autorizações de entrada na portaria e o pagamento da taxa de 15.000 pesos, pegamos mais um transfer de 7km até a Hosteria Las Torres.
Chegando ao parque
Finalmente fincamos nossa barraca nesta terra maravilhosa e sem perder muito tempo almoçamos um “miojo especial” e nos preparamos para nossa primeira jornada, haja vista que a visão das torres acima de nossa barraca, totalmente visíveis, fazia com que nossa ansiedade que ao longo dos meses já nos corroia, agora já nos fazia agir instintivamente.
Acampando aos pés do Monte Almirante Nieto
As Torres del Paine
O primeiro trecho do caminho que liga as torre, tem uma subida tranqüila que corta a primeira montanha e venta muito forte. Neste lugar, o trecho é bem descampado e nas partes mais altas, o vento se afunila vale abaixo não perdoando ninguém, muito menos bonés e similares que saem voando a todo momento.
O segundo trecho margeia o rio ascencio, a qual sua margem serve de abrigo para o Campamento Chileno, e atravessa uma bonita região de árvores verdes não muito altas, que provoca um alívio momentâneo no vento, mas consequentemente faz com que os agasalhos e anorak’s se tornem obsoletos.

Quase nas Torres
No terceiro e decisivo trecho, a visão das torres já é bem próxima penhasco acima. Isso mesmo, penhasco. Um impressionante deslizamento de pedras gigantescas faz com o este trecho seja o mais penoso de todo o circuito. Nada que seja impossível de ser vencido, porém leva uma meia hora para poder vencer uns trezentos metros de subida.
Porém, quando vencido, a visão é tão impressionante que faz com que seus sentidos fiquem em alerta máximo. Ainda com a respiração ofegante e a audição comprometida pelo vento fortíssimo, finalmente estávamos bem diante da visão mais espetacular que meus olhos jamais sonhavam desfrutar. Apesar de toda a expectativa que cercava este momento, a vontade que tínhamos era de se jogar nas águas límpidas e geladas do lago que se formou na base das torres para sentir na pele seus efeitos.
Bom, depois de algum tempo observando o cenário, que não sei precisar quanto e incontáveis fotos depois, o vento começou a ficar bem desconfortável sobre nossas roupas já molhadas pelo esforço anterior, então retornamos saciados para o acampamento base para uma noite de sono incrivelmente barulhento por conta do vento que continuava implacável contra a lona da barraca adentro.
Pela manhã, notamos o estrago. Não havia nenhum estrepe preso ao chão, a barraca só não saiu voando literalmente, porque estávamos dentro dela.
As Torres com seu lago abaixo
O Campamento las torres é muito bom, o local está localizado em uma área linda logo no início do parque, possui bastante arvores, mesas, uma infra-estrutura de banheiros com água quente e a taxa (3500 pesos por pessoa) lhe dá direito a lenha para o fogo em locais específicos. Para quem não quer e não precise ficar em barraca, ao lado há uma estrutura hoteleira boa para abrigar os menos aventureiros.


Segundo Dia
Seguimos nossa meta que era alcançar o Campamento Italiano(que se localiza na entrada da segundo perna do W) e está há 16 km do nosso primeiro acampamento.
O caminho é especial, pois margeia o lago Nordenskjold de um lado, gigantesco e que o acompanha durante todo o trajeto, e do outro, paisagens tão lindas quanto, fica para traz o Monte Almirante Nieto e logo se aproxima os Los Cuernos e o Paine Grande.
A travessia é feita por um percurso quase que em sua totalidade sobre pedras e atravessam-se alguns riachos que o degelo forma. Foi neste percurso que percebemos a quantidade de casais que caminham pelo Parque, Ficamos impressionados, pois imaginávamos que não haveriam muitas meninas, e que para nossa surpresa eram todas bonitas e cheirosas.
O vento continuava fortíssimo ao ponto de desequilibrar aos mais desatentos, o impressionante é que ele não tem uma constância, é esporádico e se consegue na maioria das vezes ouvi-lo se aproximar pelo caminho ao seu encontro. Nada a reclamar, pois ele simplesmente faz questão de mostrar que quem faz as regras neste lugar é a mãe natureza. Ainda bem.
Lago Nordenskjold
Só para ter uma idéia, o vento que bate no lago ao nosso lado ribanceira abaixo, produz bolsões de água que conseguem nos alcançar trilha acima.
6 horas depois, alcançamos o Campamento Italiano. O local é bem abrigado do vento, fica ao lado do Rio Francês e está localizado na entrada do Vale Francês, que é nosso próximo objetivo. Ele é gratuito, porém possuem apenas dois banheiros e ainda estavam interditados. O que causou a única má impressão durante todo o trajeto. O que para nós não foi tão desastroso assim, pois subindo um morrinho atrás dos banheiros, se podia fazer as necessidades para uma vista inspiradora. O problema é que algumas pessoas não estavam enterrando os papeis higiênicos e o vento estava fazendo sua parte espalhando-os por todo o lado, causando o primeiro sinal de presença humana acentuada no parque. Para o público feminino não deve ter sido uma boa experiência.


Campamento Los Cuernos recebendo a força do vento
Pode-se escolher o Campamento Los Cuernos que fica antes do Italiano, que tem uma boa estrutura, porém fica há uns 5km antes. Não nos pareceu uma boa idéia, já que você vai ter duas alternativas. Fazer os 5 km até o vale antes de entrar propriamente nele e depois ainda retornar a mesma distância até o acampamento base. E futuramente caminhar na mesma direção para continuar o trajeto. Ou seja, (pelo menos 15 km que podem ser evitados) Ou ainda fazer o caminho com a mochila carregada nas costas até o vale francês e depois seguir viagem. Não recomendamos nenhuma das duas alternativas, uma noite sem banho e sem banheiro não matam ninguém, ou quase...


Terceiro dia
Esqueci de comentar, mas estávamos acampados no início do vale, e que no topo do vale descansa o Glaciar Francês. Durante a noite ouvíamos estrondos altos que a princípio pareciam ser trovoadas, mas nada mais era que a natureza se exibindo ao som dos blocos de gelo se desprendendo do glaciar ao longe, o que no silêncio na noite pareciam ser sobre nossas cabeças.
Depois de uma noite interminável de 12 horas dentro da barraca, efeito do frio, tomamos o velho chocolate quente e pernas a quem te quero vale adentro.

O caminho com o Paine Grande ao fundo
Novamente a expectativa nos quebrou, para melhor, diga-se de passagem. O caminho apesar da diferença de altitude que se percorre é bem tranqüilo e não requer tanto esforço como nos dias anteriores. E a paisagem, há a paisagem... Para quem já ficou impressionado com as torres, neste lugar não se possuem adjetivos já inventados que consigam relatar a sua grandeza. Você fica literalmente cercado por montanhas, uma mais sensacional que a outra. Incrível perceber as camadas de gelo que compõe o cume da maioria delas, e outras que simplesmente não a permitem por serem feitas somente de pedras e por conseqüência acumular mais calor.

O Vale Francês
Mas o mais impressionante ainda e presenciar a passagem de jatos que não param de circular parque acima. Ficamos com uma louca sensação que na volta presenciaríamos esta imagem de cima também.Novamente como aconteceu nas Torres, foi difícil desgrudar nossos olhos do lugar e pegar o caminho de volta até o acampamento base. Mas...

A rota dos aviões
Como conseguimos fazer o percurso ida e volta até o vale e ainda ser meia tarde, resolvemos almoçar o tão famoso instantâneo e continuar o percurso durante o resto da tarde até o Refúgio Paine Grande. O caminho é o mais fácil de todos e pode-se percorrê-lo em apenas 2 horas, sem muitas subidas e além do mais, aqui o sol se põe depois das 22 horas. Pra falar a verdade você consegue montar acampamento até as 23 horas ainda com luz natural.


O Refúgio Paine Grande tem uma infra-estrutura tão boa quanto o Las Torres, uma cozinha com fogão e bons banheiros com água quente e um mercadinho interno com poucas opções de comida, porém para abastecer as faltas é uma boa opção.Nesta noite dos demos ao luxo, depois de tanto miojo, de tomarmos umas cervejas locais e jantar-mos no refúgio. Há, o manjar dos Deuses.

Acampamento Paine Grande
Na saída percebemos que o vento havia sumido. Como diz o ditado, após a calmaria vem à bonança. Errado, fomos descobrindo aos poucos que falta de vento neste lugar significa chuva.
Foi à noite mais dolorosa de todas (para mim pelo menos), pois nossa ilustre barraca que foi alugada especialmente para comportar este tipo de clima deixou a desejar.
Acordei todo molhado dos joelhos para baixo no saco de dormir, resultado de várias goteiras infernais que insistiram em cair sobre mim à noite inteira. Resultado, dormi poucas horas e ainda por cima molhado, e no restante da noite acordado com um frio de rachar.
Intrigante, foi ir ao banheiro lá pelas 04 horas da manhã e presenciar um sujeito dormindo sobre a bancada dentro do banheiro masculino. Calculei que a barraca dele deve ter sofrido o mesmo mal que a nossa, ou pior. Aquela cena me fez ver o quanto o lugar fascinava as pessoas ao ponto de não incomodá-las seja qual fosse os imprevistos, pois ele dormia impassivelmente sem se mexer. Voltei para a barraca molhado e com frio, mas muito feliz e com paz de espírito por poder fazer parte deste lugar que infelizmente inúmeras pessoas gostariam de poder visitar e que nunca vão ter esta oportunidade.
Glaciar Grey
Quarto dia
Bom, nos nossos planos, a meta era simples. Caminhar sobre a última perna do W até o Refúgio Grey, visitarmos o Glaciar Grey e embarcarmos num barco por 3 horas até a Hosteria Lago Grey do outro lado do lago. Tudo muito simples.
Bom caminhamos por uma trilha de 11 km, muito bonita por sinal, margeando novamente lagos e montanhas, até darmos de cara com uma paisagem única.
O Glaciar Grey. Todo este gelo a perder de vista te impressiona, pois a história nos conta que em 40 anos ele já encolheu aproximadamente 1 km e não tem previsão de quantos mais ele pode encolher ou não. A nossa visão é de um amontoado de gelo imensurável descendo o vale até encontrar uma ilha que serve de barreira natural e que torna a paisagem ainda mais monumental.
Refeitos da miragem descemos o penhasco até o Refúgio Grey que fica a apenas uns 10 minutos.
Também tem uma boa estrutura para acampamento e refúgios, porém não se compara as demais e a presumir pela tarde, a noite deve fazer um frio gigantesco proporcional ao tamanho do glaciar que fica ao lado.
Tudo bem. Para nós, psicologicamente nossa viagem tinha terminado e segundo um instrutor do local acabávamos de perder o barco das 13 horas, mas poderíamos esperar com absoluta certeza até as 18 horas. Ou seja, ficar 5 horas viajando sem rumo num frio de rachar. Tudo bem, de novo eu pensei.
O Lago e o Glaciar Grey com a ilha no centro
Não é que lá pelas 16 h resolvemos tomar qualquer coisa para passar o tempo no refúgio e numa eventualidade resolvo perguntar de novo o horário do barco. Para nossa surpresa, o maluquinho tinha informado errado, o barco só partiria no dia seguinte as 13 h e teríamos que acampar literalmente na borda de um glaciar. Ninguém merece!
Cara, fiquei muito p...e saí soltando os cachorros pela trilha de volta ao ponto de partida(Refúgio Paine Grande). Não por nada, eu caminho longos trajetos sem reclamar, mas estávamos com toda a carga nas costas num trecho que se soubesse que voltaríamos, não havia há mínima razão para carregar ida e volta. Além do mais, para voltar era mais complicado que a ida, parecia que haviam inventado uns morros a mais só para me provocar. Coitado do Dionei que teve que suportar o meu humor por alguns minutos. O que ele sabe fazer muito bem, pois possue uma paciência e bondade no coração que poucos conseguem. Voltou batendo fotos pelo caminho todo sem nenhuma pressa. Porém foi só por alguns instantes, pois logo percebi que nesta travessia de volta ganharíamos mais uma noite no parque e economizaríamos uma fábula, pois o preço do barco que sai do Refúgio Grey é 3 vezes mais caro que o que sai do Refúgio Paine Grande. Além do mais com essa raiva toda consegui como sempre tirar um gás interno e andei morro acima que nem loco, resultado, quase uma hora a menos de percurso.
À noite, no mesmo lugar que eu não havia dormido a noite anterior devido às goteiras e o frio, (talvez tenha sido este o resultado do meu mau humor), acampamos novamente no mesmo lugar só de raiva. O Dionei continuava se divertindo com o acontecido (que para mim já havia passado há muito tempo), mas que ainda rendia piadas já que tínhamos que montar aquela bendita barraca outra vez.
O cara é tão especial que chegou a sugerir de montar a barraca sozinho só pra não me estressar (lógico que não acatei) e ainda montou seu saco de dormir no lado onde havia acontecido a enxurrada do dia anterior. Não estando satisfeito ele cozinhou um arroz maluco com milho e presunto frito que com certeza matou meio acampamento só com o cheirinho e ainda comprou duas garrafas de vinho chileno para acompanhar.
Imaginem a cena, nós dois no meio do nada com uma garrafa de vinho na muringa, rindo sem parar das pessoas que estavam na chamada “vida normal”, trabalhando, pois era plena segunda-feira e o ano estava começando para os plebeus. Cara, dormi sem intervalos e para sorte do Dionei, não se molhou.

Passeando de ônibus
Quinto dia
Agora era fácil, desmontar acampamento e partir no barco das 10 horas rumo a Guarderia Pudeto.
O barco atrasou um pouco o que nos deixou um pouco apreensivos, mas logo tudo se ajeitou. A travessia do lago Pehoé leva somente 30 minutos e o ônibus estava nos esperando no outro lado. O passeio é bonito e funcionou tudo dentro do esperado, não havendo problemas com horários. Fiquei impressionado com a organização e esqueci rapidinho o problema do dia anterior, o que na verdade surgiu por um problema de má comunicação, o que pode acontecer em qualquer lugar e que não deve servir de base para visitas futuras.
Passeamos da Guarderia Pudeto até a Conaf(Administração do Parque), no sentido inverso da saída do Parque só para podermos passear mais um pouco. Recomendamos, já que se pode visualizar o lado inverso dos lagos por onde caminhamos e se ter umas molduras a mais em sua memória.

Dionei e DD a direita
COMO CHEGAR
Um vôo de Santiago até Punta Arenas(aeroporto mais próximo)(03:25hs de duração)
O Aeroporto fica a uns 20 km do centro.
Depois via Terrestre até Puerto Natales (cidade mais próxima do Parque) (4 hs duração)
De Puerto Natales até o parque (são mais 140 km.)
As passagens podem ser compradas para ida e volta e realmente funcionam nos horários programados. Aliás tudo funciona realmente dentro das datas programadas, o que realmente impressiona num lugar onde o fim do mundo está bem próximo.

VALORES
Achamos interessantes listar alguns valores, (em pesos chilenos por pessoa) para facilitar a programação financeira dos futuros visitantes:
Neste período U 1 dolar valia 500 pesos.
Entrada no Parque: 15.000
Ônibus de Puerto Natales até o Parque: 12.000 (ida e volta)
Pousadas em Punta Arenas e Puerto Natales: 5.000 por dia
Táxi de Punta Arenas ao aeroporto: 3.000
Restaurantes: comida descente: 8.500 a refeição
Acampamentos no Parque: 4.500 dia
Refúgios no Parque: 20.000 dia

DICAS
Deve-se comprar toda a alimentação e fazer o câmbio em pesos chilenos em Puerto Natales, pois dentro do parque é tudo mais caro, além de que na entrada do parque só aceitam moeda nacional.
Um Corta ventos é fundamental para amenizar o frio e o vento.
Botas de caminhada são imprescindíveis, pois os caminhos possuem bastante pedras e o solado de tênis não suportam bem.
Faça as caminhadas com toda a calma dentro de suas limitações, para não perder nenhum detalhe. Todas as trilhas são fascinantes e bem sinalizadas, portanto você deve fazê-las até o final para ter as melhores imagens.
Espanhol e Inglês são as línguas comunicáveis em qualquer canto, porém mesmo no portunhol misturado com gestos todo mundo acaba se entendendo. O local é visitado por turistas do mundo inteiro, a maioria deles europeus, se você se comunicar bem em inglês com certeza vai fazer boas amizades.


Para maiores esclarecimentos, entre em contacto conosco e teremos o maior prazer em atendê-los

Abraços
DD